O empresário Norman Gonçalves de Sá, de 45 anos, foragido da Justiça do Maranhão, desde 2008, quando passou a ser acusado da morte do advogado Almir Silva Neto – crime ocorrido em dezembro daquele ano, no município de Barra do Corda -, resolveu divulgar na Internet um vídeo, no qual garante ser inocente, e ter sido vítima de um “golpe político”. Sem revelar o local onde está, o proprietário da maior rede de postos de combustíveis da região central do estado afirma no site Youtube que teve seu nome envolvido no caso de forma estratégica, para que fosse obrigado a deixar a cidade, já que havia se lançado candidato a prefeito.
Segundo consta nos autos, Almir Silva Neto foi encontrado morto no bairro Baixão da Pedra, próximo a um motel, de onde havia acabado de sair em companhia de Elaine Cristina Gonçalves Lima, na época com 24 anos. O corpo do advogado, conforme laudos do Instituto de Criminalística (Icrim), estava totalmente carbonizado, dentro do seu veículo, um Fiat Uno Mille de cor vermelha, totalmente carbonizado. Quatro meses antes do crime, a esposa do jurista, Vilma Vieira de Souza, segundo informações, teria aparecido em sua casa e, aos gritos, caluniando sua mulher, afirmando ser esta “amante” do seu marido.
Esta versão, conforme dados do processo, dão conta de que a viúva de Almir Silva Neto teria recebido, uma semana antes do escândalo, R$ 30 mil, depositados em uma de suas contas no Bradesco. O empresário não quis citar nomes nas imagens, mas deixou claro acreditar que a quantia teria sido paga pelo “grupo político que atualmente gere o município”, e que, segundo ele, tinha interesse em “desmoralizá-lo” perante a população barracordense. Para Norman Gonçalves de Sá, promover a idéia de “crime passional” era a tática perfeita para que seus adversários políticos o vissem fora das disputas eleitorais.
“Sempre fui muito querido por toda a cidade, e por ser um homem trabalhador, fui convidado a concorrer ao cargo de prefeito. Desde então, passei a ser perseguido, pois me tornei uma ameaça aos gestores que ainda dominam Barra do Corda. Após o crime, pedi que meu advogado fosse a delegacia, e protocolasse minha disposição em me apresentar para qualquer esclarecimento, informando todos os meus endereços. Entretanto, jamais fui intimado pela polícia, e quando houve uma comunicação da polícia, já estavam com um mandado de prisão em meu desfavor”, alega o empresário.
Durante pouco mais de 10 minutos, Norman de Sá contesta o inquérito policial, que o aponta como partícipe do crime, além de mentor intelectual. Ele afirma que entre o início da noite do dia 22 de dezembro de 2008 estava hospedado com o filho na cidade de Colinas, distante 200 quilômetros de Barra do Corda, e que esteve na companhia de vários amigos em um bar, localizado na praça matriz da cidade, inclusive do proprietário do estabelecimento até as 3h do dia 23, período em que a vítima foi assassinada. O empresário completa dizendo que apesar de acreditar na Justiça, espera que a mesma seja feita o quanto antes, pois está impedido de gerenciar seus negócios e conviver com sua família.
“Acredito na Justiça, e sei que minha inocência será provada. Estamos falando de um crime covarde e, na pressa de achar um culpado – para dar uma resposta à população -, resolveram atribuir a autoria a mim, naquele momento o mais apropriado para o cenário político. Por tudo isso tenho que dizer que não estou bem. Estou longe da minha família. Minha mãe está com 80 anos, minha neta está crescendo, meu trabalho está comprometido, e estou impossibilitado de acompanhar tudo isso. Quero retornar à minha cidade, e provar minha inocência, e tenho medo, pois sei que quem matou Almir Neto, pode me matar também”, disse o empresário na postagem que tem como título “Norman Sá”.
Procurados, os advogados Pedro Jarbas e Berilo Freitas, que hoje defendem a causa do empresário, explicam que a idéia de Norman Gonçalves de Sá em postar um vídeo na Internet, afirmando ser inocente, baseia-se em contradições do inquérito policial, e de evidências de que houve um “crime político”. A primeira delas diz respeito à causa da morte do advogado. “A polícia apurou que a vítima foi torturada, baleada e castrada – tendo o órgão genital colocado na boca -, depois queimada viva. Dois meses depois, no entanto, o Icrim constatou apenas a carbonização”, adiantou Jarbas.
Segundo Jarbas, manter os sinais da barbárie como “verdade”, principalmente o detalhe da castração, daria consistência à versão de crime passional – propagado pela viúva do advogado -, e relacionaria a pessoa de Norman Gonçalves de Sá como principal interessado na morte do jurista. “Trata-se de uma verdadeira aberração e afronta ao Direito. O processo encontra-se suspenso, e não há condenação nem no processo crime, muito menos no cível. Percebe-se que há interesses pessoais em condenar o empresário, e se apropriarem indevidamente de seus bens”, completou o advogado do empresário.
Devido ao trâmite processual, os juristas, e o próprio empresário (no vídeo), evitaram declinar a quem de fato interessava o escândalo e a morte do advogado. A cidade de Barra do Corda é administrada há quase oito anos pelo prefeito Manoel Mariano de Sousa, o Nenzim – apontado pela Polícia Federal, em fevereiro deste ano, com mais cinco pessoas da família, como integrantes de uma quadrilha especializada em lavagem de dinheiro, e desvio de mais de R$ 50 milhões, oriundos de recursos públicos. Depoimentos da mãe do advogado assassinado relatam que a vítima chegou a ser ameaçada pelo prefeito, depois que Almir Silva Neto o chamou de “vagabundo”, em praça pública, na ocasião em que a prefeitura embargara uma obra do empresário.
“Todas as evidências de crime político foram desprezadas no inquérito. A mãe da vítima foi procurada pelo ‘líder do grupo político’ (Nenzim), e ela disse em depoimento que este teria lhe falado que não havia gostado do insulto que seu filho havia feito na frente de todos da cidade, e que isso não ficaria assim’. Meu cliente tinha a vítima como advogado, e mantinham uma relação amigável. Dias após o crime, porém, teve seu rosto impresso em cartazes, outdoors, panfletos, leques e adesivos, patrocinados pelo ‘grupo político que domina a cidade’, com a inscrição: ‘PROCURADO PELA MORTE DE ALMIR SILVA’, e todo esse material foi distribuído no Carnaval de 2009. Mas por qual interesse?”, questiona Jarbas.
Além de Elaine Cristina Gonçalves Lima, está preso Jose Vieira Cruz, de 47 anos, acusado de ser um dos executores do crime. Na mesma condição de foragido está o sobrinho do empresário, o também advogado José Othon Gonçalves Sobrinho, de 27 anos, que também foi apontado no inquérito como partícipe.
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